sexta-feira, 13 de outubro de 2017

• LSPS Tempestades → ESPECIAL - A Frente Fria Severa de 1º de Outubro - 1/10/2017


     Uma Super Frente Fria!!! O Dia 1º de Outubro de 2017 ficou marcado na história climatológica brasileira pela formação e passagem da mais potente e severa frente fria em anos, ou da década, sobre o sul do Brasil. A Passagem do sistema causou, possíveis tornados, tromba d'água, Shelf Clouds, rajadas acima dos 100 km/h, e granizo. Uma onda severa sem precedentes recentes Brasileira!

     Desde o começo da última semana de Setembro. se projetava um cenário severo sobre o Sul do Brasil. O GFS e NAVGEN projetavam um atmosfera muito instável. Diante desse cenário Assustador, foi realizada duas previsões em nossa página, uma no dia 26, e atualizada no dia 30.

           | As duas previsões da LSPS Tempestades | Foto: Lucas Slongo |

     Nota do Editor: ''A Previsão falhou em não prever a onda severa afetando severamente a metade sul do RS, mas mesmo assim, obteve a precisão de 80%, e ter a eficácia destes aproximadamente 80% na previsão só serve de incentivo para eu continuar a missão de Salvar Vidas através de previsões e alertas meteorológicos.''

     A Onda severa começou as 23:30 da noite de sábado, quando a ativação convectiva começou no estado de Buenos Aires, na Argentina. Ao longo da madrugada de domingo, novos Sistemas Convectivos se formaram mais a oeste e noroeste e se juntaram ao primeiro já no fim da madrugada.
     Durante o fim da madrugada e inicio de manhã, começou a se organizar uma Linha de Tempestade, devido a formação da Frente Fria, que aos poucos começava a avançar rumo ao oeste do RS.

     As 9:20, a Linha de Tempestade adentrou o extremo oeste do RS, com intensidade moderada.

     As 10:10, a Linha de Tempestade começou a passar sobre Uruguaiana. Onde causou chuva forte, rajadas moderadas de vento, com descargas elétricas. Neste momento em diante, a LT começou a ganhar intensidade, principalmente seu flanco esquerdo, que se localizava-se sobre a Argentina.

           | Nuvem arco sobre área rural de Uruguaiana-RS | Foto: Twitter: @PretoCosta26 |

     As 11:00, uma Frente de Rajada (Outflow) começou a avançar a frente da Linha de Tempestade.

           | Frente de Rajada a frente da linha de tempestade | Foto: Redemet (Edição: LSPST) |

     Das 12:00 em diante, a forte célula sobre a Argentina começou a curvar. E as 12:20, formou um nítido gancho (Hook Echo) indicando que há um intenso mesociclone. A Rotação era tão forte, que fez a linha frontal se dividir em duas. O Pior de tudo é que a Super Célula robusta estava prestes a adentrar o RS nas proximidades de Itaqui-RS. Mas felizmente o mesociclone perdeu força quando adentrou território gaúcho. Mas muito provavelmente formou um tornado sobre a Argentina.

           | Super Célula com nítido gancho sobre território Argentino e quase no RS | Foto: Redemet |

     Enquanto migrava em direção a Santiago-RS, a massa daquela super célula gerava pequeno ecos de gancho. Como ocorreram sobre área rural, não se sabe se houve a formação de funis, ou tornados.

           | Pequenos possíveis ganchos na linha que passou sobre Santiago-RS | Foto: Redemet (Edição: LSPST) |

     O Avanço da Linha de Tempestade fez ocorrer a formação de uma tromba d'água sobre o Rio Paraná que faz divisa entre Paraguai e Argentina, as 14:30. Confira abaixo o vídeo do fenômeno.

Tromba d'água na divisa entre a Argentina e Paraguai - 1/10/2017.

     | Uploader: LachorizeraYT. |

     No mesmo momento, um forte núcleo passa sobre Capão do Cipó, deixando bastante destruição. Suspeita-se que tenha ocorrido um Tornado EF0 na cidade. Relato de seguidor da LSPS Tempestade, sobre objetos sugados e rodopiando no ar, dão ainda mais sustentação a passagem do Tornado.

     As 12:40, a flanco direito da linha chegava a Dom Pedrito, causando fortes rajadas de vento.

           | Bela Nuvem Arco em Dom Pedrito-RS | Foto: Claudenir Munhoz |

     As 15:30, uma super célula acoplada a Linha de Tempestade passou ao norte de Santa Maria, mais exatamente em Tupanciretã, causando rajadas de 127 km/h. Através de uma imagem, foi constatado pela LSPS Tempestades, com 80% de certeza, a passagem de um Tornado EF1 sobre a área rural da cidade. A Confirmação em 100% só seria possível com mais imagens, principalmente aérea.
     Abaixo pode-se ver um registro, com danos característicos de um tornado.

           | Arvores inteiras e decepadas em Tupanciretã-RS | Foto: Autor Desconhecido (Via Twitter MetSul) |

     Por volta das 17:20, misteriosamente a energia elétrica em Viamão caiu, deixando toda a cidade as escuras. Neste momento eu, Lucas Slongo, estava prestes a iniciar o monitoramento, e alertar os moradores da região metropolitana da chegada da instabilidade severa. Antes de ligar o maquinário, a energia caiu! A Teoria mais aceita é que foi desligamento preventivo da concessionária CEEE.

     Ao passar sobre Montenegro, a tempestade deixou 300 casas destelhadas, além de uma loja, que acabou pegando fogo devido a uma forte descarga elétrica. Felizmente, sem feridos na cidade.

     As 18:30, a Linha de Tempestade severa chegou a região metropolitana. A Rajada mais forte registrada na capital foi de 107 km/h. A Passagem da tempestade deixou quase 100% de POA sem luz elétrica, graças a queda de postes, e arvores sobre os fios de alta tenção. O Mais grave foi o desabamento da estrutura de um circo, mas felizmente não houve mortes, apenas 5 feridos levemente.

           | Circo no chão e ginásio avariado em POA | Fotos: Deise Freitas/Defesa Civil |

     As 18:44, a Shef Cloud começa a passar sobre Viamão. E a sua passagem causa rajadas de no máximo 60 km/h, deixando 31 casas com telhados avariados levemente e alguns seriamente.

     Ao longo da noite, a frente fria foi avançando pelo nordeste do RS, e o flanco direito que passava pela região, começou a perder força, já o flanco esquerdo, começou a ganhar força sobre o Paraguai e Mato Grosso do Sul.

Ranking das Rajadas de vento pelo Brasil (100 km/h para cima):
132,0 km/h em Salto do Jacuí-RS. (Estação DAVIS Particular).
127,8 km/h em Tupanciretã-RS (Cidade do Tornado EF1, esta rajada não é a medição do tornado).
118,0 km/h em Soledade-RS (Aeroporto Municipal).
• 115,2 km/h em Dionísio Cerqueira-SC.
• 114,3 km/h em Chapecó-SC.
• 112,6 km/h em Dourados-MS.
• 111,6 km/h em Ouro Branco-MG.
• 110,1 km/h em Cruz Alta-RS.
• 108,7 km/h em São Lourenço do Oeste-SC.
• 108,0 km/h em Planalto-PR.
• 107,6 km/h em São Borja-RS
• 107,2 km/h em Porto Alegre-RS.
• 106,5 km/h em Bom Jardim da Serra-SC.
• 102,9 km/h em Teutônia-RS.
• 101,8 km/h em Dois Vizinhos-PR.
• 100,0 km/h em Pato Branco-PR.

▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬   • LSPS Tempestades em Campo • ▬▬▬▬▬ ▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬.

     As 16:00, a cirrus dos desenvolvimentos verticais da LT já cobriam o céu acima da sede da LSPST. Mas como era a ponta da super bigorna, ainda era possível ver o sol acima da nuvem.

           | Cirrus da bigorna já cobrindo o céu de Viamão | Foto: Lucas Slongo (Adm: LSPS Tempestades) |

     As 18:26, começava a ativação elétrica, do nada os raios começaram a ocorrer na frente da shelf cloud, que aos poucos avançava vindo da direção oeste. Na imagem abaixo, é possível notar o topo da Nuvem Prateleira chegando a sede, junto com a ocorrência de uma descargas elétrica ao norte.

           | Topo da Shelf Cloud já visível | Foto: Lucas Slongo (Adm: LSPS Tempestades) |

     Sem Luz para alertar, bastou (graças a disponibilidade) caçar a tempestade.
     Infelizmente a caçada não teve produtividade em registro, devido a escuridão e contraste da claridade do farol, não consegui registrar se quer um frame da Shelf Cloud, fato que me incomoda até então. É F*** para um caçador não poder registrar um evento épico e histórico. Ficou para próxima!
     Abaixo mostro como os 20 minutos de registro ficaram. Sim, só filmei carro e a estrada. :(

           | Andando na ERS-118 rumo a Viamão | Foto: Lucas Slongo (Adm: LSPS Tempestades) |

     Momento descontração: Bianchi, o ponto de luz numa Viamão as escuras!!! O Gerador da Biachi é tão poderoso, que o estabelecimento operou normalmente logo após o temporal, como se nem tive-se ocorrido a tempestade e a falta de luz. Tirando os faróis dos carros, era o único ponto de luz visível na cidade. MAZAAAAA BIANCHI!!!

           | Enfrente a Biachi, rumo a sede da LSPST | Foto: Lucas Slongo (Adm: LSPS Tempestades) |

     Não foi uma interceptação ofensiva, mas sim conservadora, o veículo não é preparado para resistir a fortes rajadas de vento e muito menos granizo, confira abaixo o trajeto feito por mim e meu irmão.

Rota em Texto: Sede LSPST→Estância Grande (direção leste depois oeste)→ERS-118→Açores→Av. Bento Gonçalves→R. Macros de Andrades→R. Daltro Filho→R Julieta Pinto Cesar→R. José Garibaldi→ERS-118→Estância Grande→Sede da LSPST.


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→ Análise Técnica:
     A Condição atmosférica no dia 1° de Outubro estava excepcionalmente instável. Havia pressão barométrica abaixo dos 999 hPa (994 e 990 em algumas regiões), atuação dos Jatos de Baixos Níveis, avanço de uma Frente Fria, e temperatura em superfície considerável (24 a 28°C).
     Os parâmetros atmosféricos: CAPE, TT, Lifted, e Sweat estavam consideravelmente altos.

200 hPa: No Topo da Troposfera ocorreu a formação de uma Divergência no Jato Subtropical. Este fenômeno ajuda na perda de massa, ou seja, auxilia na ascensão, e diminui a pressão barométrica. Na madrugada de segunda, a divergência regrediu e virou apenas uma difluência. Mas nota-se que a divergência foi tão forte que corrigiu o Jato Subtropical para soprar na direção sudeste sobre o RS.

          | Comportamento do JST durante a tarde até a madrugada de segunda | Foto: Earth (Edição LSPST) |

500 hPa: No nível médio da troposfera, tinha um cavado intenso atuando sobre a Argentina e RS.

          | Comportamento do Cavado durante a tarde até a madrugada de segunda | Foto: Earth (Edição LSPST) |

700 hPa: Entre o nível mais baixo e o nível médio da troposfera, havia bastante umidade disponível. Umidade trazida pelo Jatos de Baixos Níveis. Esta umidade era o combustível das tempestades.

          | Umidade da atmosfera durante a tarde de domingo (15:00) | Foto: Earth (Edição LSPST) |

850 hPa: No nível mais baixo da troposfera (tirando o 1000 hPa, que é a superfície). Neste nível, havia a pressão barométrica de 995 hPa para baixo, Jatos de Baixos Níveis (JBN), e uma frente fria em formação, ou seja, o ar frio avançando sobre o ar quente em baixa pressão.

          | Comportamento do JBN durante a tarde até a madrugada de segunda | Foto: Earth (Edição LSPST) |

          | Pressão atmosférica durante a tarde de segunda | Foto: Earth |

     Pelas imagens de satélite, nota-se a explosão convectiva na noite de sábado e madrugada de domingo, a formação e organização da frente fria, e o avanço sobre o sul do Brasil. A Explosão convectiva sobre o Paraguai serviu para matar a instabilidade do primeiro CCM.

                                       | Evolução do sistema no sul do Brasil | Foto: DSA (GIF: LSPST) |

                                                   • BONUS .
     Enquanto este cenário Severo se desenrolava em continente. Na costa de Santa Catarina e Paraná, atuava uma Baixa Subtropical, que apresentava simetria e núcleo quente a morno (na divisa) em baixo níveis, e morno em médios e altos níveis. Provavelmente por não estar tão adentro em Warm-core, e avançando para águas mais frias, a Marinha não quis caracteriza-lo como Depressão Subtropical.

          | Análise da baixa via Cyclonephase | Foto: CyclonePhase (Edição LSPST) |

     Se lembra das super células do dia 14 de Outubro de 2015? No dia 14 deste mês, no aniversário de 2 anos, será lançada aqui no blog o Especial sobre o evento, que era considerado o mais severo, até chegar o dia 1º de Outubro de 2017.

   • Conclusão → Este evento, de longe, foi o mais severo da década sobre o sul do Brasil, superando as super células do dia 14 de Outubro de 2017. Novamente, a meteorologia se mostrou conservadora demais, com destaque para os noticiários da TV, que mencionavam apenas ''chances para temporais, com rajadas de vento e granizo''. Os órgãos meteorológicos mencionavam a condição para Tempo Severo, mas com menções espaças e sem alarmar, quando alarmar era a melhor opção.

OBS: Não há muitas imagens dos fenômenos severos devido a poucas imagens disponíveis para uso público. A maioria é protegidas por Direitos Autorais, e só podem ser usadas com permissão do autor, e para usarmos, teríamos que entrar em contato com os autores. Tarefa que é bem complicada.
     Com isso, esta postagem está sujeita a atualizações para adição de conteúdo!

• Texto: Lucas Slongo (Adm: LSPS Tempestades).
Fotos: LSPST, PretoCosta26, Deise Freitas, Redemet, Earth, DSA, Cyclonephase.

                                                                                 • LSPS Tempestades •

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